Humberto Firmo - Calango do Cerrado

16 de dez. de 2013

Antronauta


Todo entendimento humano sobre o Universo é adquirido através de filtros perceptivos. Toda e qualquer expressão humana está baseada no conhecimento adquirido pela espécie ao longo de sua evolução.

Dois indivíduos não tem uma mesma percepção do mundo ao redor de sua consciência. Cada indivíduo é um universo em si. Crenças moldam faces, conhecimentos esculpem expressões.

Na seleção natural pela sobrevivência da espécie, os humanos vivem ciclos e paradoxos enquanto sua consciência e auto-compreensão se expandem. Preso à órbita de mundos ou indivíduos, os humanos compartilham de uma ilusão coletiva. Ilusão que se torna realidade na medida em que é vivida.

Os ensaios antrópicos são observações das percepções humanas e suas reações aos sistemas naturais. As imagens simbolizam e retratam a história da humanidade.

Observe o próximo e estará observando a si mesmo.

© Eduardo Souzacampus

Filosofando... Belchior

Ouvir Belchior é como ler um livro de filosofia (escolha o teu preferido) acompanhado por: um vinho e um jazz rolando nas entrelinhas: (são tantos...)

  Divina Comédia Humana 

http://www.youtube.com/watch?v=MCZn7Q2Rb6U 

Belchior

Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol
Quando você entrou em mim como um Sol no quintal
Aí um analista amigo meu disse que desse jeito
Não vou ser feliz direito
Porque o amor é uma coisa mais profunda que um encontro casual
Aí um analista amigo meu disse que desse jeito
Não vou viver satisfeito
Porque o amor é uma coisa mais profunda que um transa sensual
Deixando a profundidade de lado
Eu quero é ficar colado à pele dela noite e dia
Fazendo tudo de novo e dizendo sim à paixão morando na filosofia
Eu quero gozar no seu céu, pode ser no seu inferno
Viver a divina comédia humana onde nada é eterno
Ora direis, ouvir estrelas, certo perdeste o senso
Eu vos direi no entanto:
Enquanto houver espaço, corpo e tempo e algum modo de dizer não
Eu canto

Rauseixismo

Você alguma vez se perguntou por que
Faz sempre aquelas mesmas coisas sem gostar?
Mas voce faz, sem saber porquê, você faz!
E a vida é curta, por que deixar que o mundo
Lhe acorrente os pés?
Fingir que é normal estar insatisfeito
Sera direito, o que voce faz com você?
Por que voce faz isso por quê?
Detesta o patrão no emprego
Sem ver que o patrão sempre esteve em você
E dorme com a esposa por quem ja não sente amor
Sera que é medo?
Por que? voce faz isso com você?
Por que você não pára um pouco de fingir
E rasga esse uniforme que voce não quer...
Mas voce não quer, prefere dormir e não ver
Por que você faz isso por que?
Detesta o patrão no emprego
Sem ver que o patrão sempre esteve em você.
E dorme com a esposa por quem ja não sente amor
Sera que é medo?
Por que? você faz isso com você?
Por que cara?
Mas voce não quer prefere dormir e não ver
Por que voce faz isso por que?
Sera que é medo?
Por que? você faz isso com você?
Voce faz isso com você?

Um Blues (aos que sabem o que é um Blues)

É engraçado
A gente ama, troca juras de amor, promete nunca se
separar.
A gente deposita uma confiança tão grande na pessoa amada,

que jamais você poderia imaginar que a pessoa que você quer tanto
esteja lhe traindo de uma maneira tão fria e suja.

A dor que você sente é tanta, que às vezes você deseja até morrer.

E desta dor nasce um ódio, um rancor, uma espécie de
vingança, que eu agora vou cantar:



Não vou mais chorar,
mas se eu chorar
vai ser baixinho pra ninguém me ver
O quanto eu sofro, pois amei você.
E vou seguir meu caminho triste
Como antes de te conhecer
Porem marcado, humilhado, magoado.
Pode ver.
Você foi mulher
Se isso é ser mulher
Está enganada, pois não é não.
Isto foi pura podridão
Se valeu do sentimento puro
e belo que eu tinha por você
para fazer as suas crueldades e maldades
Sem perdão.
Agora Sofre
Sofre
Todo mal que cê me fez
Você bem cedo irá pagar!
Disse a todo mundo eu que era o mal
E, no entanto foi você quem riu.
E quem me fez penar!
Agora Sofre
Sofre
Todo mal que cê me fez
Você bem cedo ira pagar!

Grande Tim!

MENSAGEM DE UMA PLEBEIA A UM POVO AMORFO E MACAMBÚZIO!

“O primeiro feriado a ser anulado deve ser o 25 de Dezembro, pois sem o respectivo subsídio não faz sentido comemorar tristezas!
Depois o 1 de Maio, uma vez que estamos praticamente com a maioria dos trabalhadores no desemprego!
O 25 de Abril deve ser só considerado tolerância de ponto entre as 00H00 e as 6H00 da manhã!
O 10 de Junho deve ser eliminado, uma vez que quem manda nisto é a troika!
...Contudo, devemos manter-nos inflexíveis na defesa do 1 de Novembro, pois é o dia dos mortos. "

Eu cidadã, que faço parte de um povo amorfo e acomodado ( mas eu disso tenho pouco) á espera de um milagre de Fátima, tenho a comunicar, que: A culpa de termos chegado ao abismo foi do POVO.

Pergunta a colocar: É isto que querem? É que os tipos já AVISARAM: Perdão a Portugal nem pensar.

Hoje o Ministro da Economia fez saber que o desconto de 50% que os idosos e jovens estudantes tinham vai deixar de existir! Não se esqueçam que os transportes vão subir! Não se esqueçam que pessoas como eu morando em Azambuja ( a 50km de Lx) pagam 100 euros de passe! Com 100 euros eu como para metade de um mês. Já não falando de pessoas que vêm de Tomar e Entroncamento, que por falta de trabalho na sua zona, pagam 200 e tal euros de passe! Resumindo em Portugal vai-se começar a PAGAR para trabalhar!
E agora meus caros, vou indo, porque estou deveras zangada! Pois é revoltante para mim ver pessoas com FOME E FALTA DE ASSISTÊNCIA MÉDICA! Se é isto que querem? EU NÃO QUERO.

Um povo que NÃO castiga os seus políticos, por uma má gestão, quando são eles que lhe pagam e esses mesmos políticos vêm cobrar ao povo o que lhes ROUBARAM, penalizando-os e tirando PÃO da boca dos seus FILHOS, não presta!

É com imensa tristeza e amargura que constato tal SITUAÇÃO!

Lucinda Maria Moreira Reizinho


Um Povo Resignado e Dois Partidos sem Ideias

  Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. [.]

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro. Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.

Guerra Junqueiro, in 'Pátria (1896)'


Luiz Felipe Pondé 

A dor na face

Muitas vezes apenas gostaríamos de dizer "não". Coisa difícil dizer "não", porque o "sim" é civilizado na sua condição de hipocrisia necessária para a vida em grupo.
Não dizer bom-dia, não dizer que gostou, não dizer que quer ir, não dizer que ama, dizer apenas "não".
Na ordem capitalista em que vivemos, onde tudo circula na velocidade do vento que nos constitui como miserável mercadoria que somos, o "não" aparentemente vende mal.
Mas não é verdade. O "não" é a alma do luxo. "Não quero" pode ser a diferença entre sua banalidade e sua sofisticação não afetada. Mas como tudo que é luxo, o "não" é difícil de achar, de cultivar, de sustentar.
Vende-se muito livro de autoajuda por aí. O leitor que me acompanha sabe como detesto autoajuda. Uma indústria que cresce na mesma proporção em que tudo perde o valor. Mas com isso não quero dizer que não precisemos de ajuda na vida. Somos uns coitados. Mas tem coisa melhor do que esse lixo.
Outro problema é que umas das maiores contradições da vida é que o cotidiano das relações quase sempre inviabiliza afetos espontâneos e nos arremessa a convivência estratégica que apenas "lida" com problemas.
Em resumo, quase sempre os membros da nossa família não são nossos melhores amigos e não é gente em que podemos confiar nossos desesperos porque sempre esperam de nós soluções para as demandas do dia a dia.
Maridos, esposas, filhos, irmãos, pais, quase sempre não servem para ouvir nossos segredos, mas apenas servem para constatar nossas misérias secretas.
Não há relação evidente entre família e paixões alegres (como diria, mais ou menos, o filósofo do século 17 Baruch Spinoza).
As responsabilidades são muitas, as expectativas excessivas, o que era amor se transforma em exigência de sucesso material e segurança previdenciária.
Comumente ataco manifestações de jovens e do povo. Não porque ache que a vida como está seja grande coisa, mas porque considero a infelicidade eterna e atávica do homem a razão final de todo desconforto político, moral e afetivo.
Quem diz que a solução do homem é política é sempre um mau caráter que gosta de política. Seja na universidade, seja em Brasília. A vida é uma prisão e não gosto de rotas de fuga falsas.
No fundo, sou mais "anos 60" do que aqueles que dizem ser "anos 60", mas que viraram "ambientalista de terno e gravata", "defensores da qualidade de vida" ou "roqueiros que cantam para as crianças da África". Para mim vale sempre uma regra básica: não confio em nada em que departamentos de recursos humanos confiam.
Nutro profunda simpatia por dois pensadores utópicos, Ralph Waldo Emerson e Henry David Thoreau, ambos do século 19, representantes do movimento libertário americano.
Há uma dor característica causada por sorrisos falsos. Os músculos da face doem por conta do sorriso mentiroso, que é sempre o mais comum em nosso cotidiano, dizia Emerson, autor de "Self-Reliance" ("Autoconfiança"), de 1841, um clássico do movimento libertário.
Os homens em sua maioria vivem uma vida de sereno desespero, dizia Thoreau, autor de "Walden" (1854), narrativa de um período de sua vida em que se isolou numa casa num bosque.
Thoreau ficou mais conhecido como o criador do conceito de "desobediência civil", quando disse que o melhor governo é o que governa menos ou de forma nenhuma.
Hoje o pensamento público tornou-se monótono porque todo mundo quer agradar e salvar o mundo. Eu não quero salvar ninguém, nem aspiro a um mundo melhor.
Como dizia Emerson, existem grandes vantagens em sermos mal compreendidos ("misunderstood").
A mania de sermos completamente compreendidos nada mais é do que o desejo de agradar a todos o tempo todo, uma das pragas típicas de um mundo marcado pelo marketing de tudo.
Em 2012 espero ser muito mal compreendido por todos aqueles que quiserem fazer de mim seu ídolo, positivo ou negativo, supondo que sabem exatamente o que eu penso ou o que sou.
Espero, acima de tudo, como dizia Thoreau, que não tenha que ir a lugar nenhum para o qual eu precise comprar uma roupa nova.

 matéria: Folha e S.Paulo

A ânsia de uma orientação filosófica da vida nasce da obscuridade em que cada um se encontra, do desamparo que sente quando, em carência de amor, fica o vazio, do esquecimento de si quando, devorado pelo afadigamento, súbito acorda assustado e pergunta: que sou eu, que estou descurando, que deverei fazer?
O auto-esquecimento é fomentado pelo mundo da técnica. Pautado pelo cronómetro, dividido em trabalhos absorventes ou esgotantes que cada vez menos satisfazem o homem enquanto homem, leva-o ao extremo de se sentir peça imóvel e insubstituivel de um maquinismo de tal modo que, liberto da engrenagem, nada é e não sabe o que há-de fazer de si. E, mal começa a tomar consciência, logo esse colosso o arrasta novamente para a voragem do trabalho inane e da inane distracção das horas de ócio.
Porém, o pendor para o auto-esquecimento é inerente à condição humana. O homem precisa de se arrancar a si próprio para não se perder no mundo e em hábitos, em irreflectidas trivialidades e rotinas fixas.
Filosofar é decidirmo-nos a despertar em nós a origem, é reencontrarmo-nos e agir, ajudando-nos a nós próprios com todas as forças.
Na verdade a existência é o que palpavelmente está em primeiro lugar: as tarefas materiais que nos submetem às exigências do dia-a-dia. Não se satisfazer com elas, porém, e entender essa diluição nos fins como via para o auto-esquecimento, e, portanto, como negligência e culpa, eis o anelo de uma vida filosóficamente orientada. E, além disso, tomar a sério a experiência do convívio com os homens: a alegria e a ofensa, o êxito e o revés, a obscuridade e a confusão. Orientar filosoficamente a vida não é esquecer, é assimilar, não é desviar-se, é recriar intimamente, não é julgar tudo resolvido, é clarificar.
São dois os seus caminhos: a meditação solitária por todos os meios de consciencialização e a comunicação com o semelhante por todos os meios da recíproca compreensão, no convívio da acção, do colóquio ou do silêncio.


Karl Jaspers, in 'Iniciação Filosófica'